Transcrição: Juliano de Henrique Mello ERGO FECIT
A vida cristã é um chamado à santidade, e essa jornada começa com a via purificativa, como ensinava Santo Tomás de Aquino:
‘A purificação da alma é o primeiro passo para a perfeição cristã, pois sem ela, o homem permanece escravizado pelas paixões’.
Segundo a Tradição da Igreja, a alma precisa ser purificada de suas más inclinações para se preparar para uma união mais profunda com Deus. Esse processo envolve renúncia, penitência e esforço contínuo para vencer as paixões desordenadas.
A transformação interior não é apenas simbólica, mas real. O Batismo, por exemplo, opera uma verdadeira mudança ontológica na alma, tornando-a participante da vida divina. No entanto, mesmo após esse primeiro passo, o pecado e as tendências desordenadas ainda precisam ser combatidos. Como ensina São Paulo: “Já não sou eu quem vivo, mas Cristo vive em mim” (Gl 2,20). Esse ideal só pode ser alcançado por meio de um caminho de purificação.
A Tradição da Igreja nos ensina que essa luta contra o pecado e o apego ao mundo é um sinal do chamado divino. São Clemente de Roma, em sua carta escrita no ano 95, já exortava os cristãos a perseverarem na luta contra as inclinações da carne e na prática da caridade infusa. O desprendimento do mundo não significa negar as realidades terrenas, mas ordená-las a Deus, submetendo nossas vontades à Sua graça.
O próprio São Paulo reconhecia essa necessidade ao falar da batalha interior contra a carne:
‘Reprimo meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado aos outros, eu mesmo não seja reprovado’ (1Cor 9,27).
Por isso, ele recomendava o jejum e demais formas de mortificação como meios eficazes de domínio próprio. A história dos santos está repleta de exemplos daqueles que abraçaram essa via de purificação, enfrentando sofrimentos, renunciando a prazeres lícitos e entregando-se completamente a Deus. Essa via exige disciplina, mas também traz consigo uma grande paz, pois conduz a alma à certeza de que está no caminho correto.
Os mandamentos de Deus são a bússola segura para essa caminhada. Eles nos mostram que o pecado nos afasta da graça e que, sem a vida sacramental, não podemos permanecer em comunhão com Deus. O pecado mortal, por exemplo, nos separa completamente Dele, tornando impossível qualquer comunhão espiritual verdadeira. Por isso, a via purificativa é essencial: sem ela, a alma não pode progredir para as etapas seguintes da vida espiritual.
A busca pela santidade não é um caminho fácil, mas é o único que nos leva à verdadeira felicidade. Um exemplo disso é São João da Cruz, que enfrentou provações e sofrimentos extremos para seguir essa via, ensinando:
‘Para chegar ao que não sabes, deves passar pelo que sabes’.
A via purificativa nos ensina a desapegar do pecado, a cultivar a virtude e a abrir espaço para Deus em nossas vidas. Quem persevera nesse caminho se prepara para receber a luz da via iluminativa e, finalmente, na via unitiva, alcançar a união plena com Deus.