Transcrição: Juliano de Henrique Mello ERGO FECIT
A vida espiritual não se encerra na via purificativa. Se o primeiro passo é limpar a alma dos obstáculos que a afastam de Deus, o segundo é permitir que a luz divina ilumine seu entendimento. A via iluminativa conduz o cristão a uma vida de maior intimidade com Deus, na qual ele se abre para a graça e cresce em santidade. Esse caminho culmina na via unitiva, onde a alma já não vive para si, mas se torna inteiramente unida a Deus.
São Paulo exorta os fiéis a viverem na alegria constante do Senhor:
“Alegrai-vos sempre” (1Ts 5,16).
Essa alegria não é uma emoção passageira, mas um estado profundo de alma que vem da união com Deus e da confiança na Sua providência. A santidade não é apenas uma luta contra o pecado, mas um caminho de crescimento no amor. Os santos, ao final de suas vidas, já não possuíam vínculos terrenos; estavam totalmente imersos na caridade perfeita. Eles mantiveram a fé, combateram o bom combate e alcançaram a coroa eterna.
O exemplo do Padre Pio de Pietrelcina nos ensina essa total entrega a Deus. Seu amor pela Eucaristia e sua vida de oração contínua o elevaram à união com Cristo, tornando-o um espelho da caridade divina. Ele não se contentava com aparências, mas buscava uma pureza de coração verdadeira, sem máscaras ou hipocrisia. Esse abandono total a Deus é a essência da via unitiva.
Outro grande exemplo é o Frei Maximiliano Kolbe, que viveu sua vida pela glória de Deus e da Virgem Maria. Desde jovem, entendeu que sua missão era oferecer-se completamente por amor. Quando foi preso pelos nazistas, sacrificou-se voluntariamente para salvar a vida de outro prisioneiro, demonstrando o grau máximo da caridade. Esse é o fruto final do progresso espiritual: o amor que se entrega inteiramente sem reservas.
Os graus de santidade são distintos no Céu, assim como o brilho das estrelas. Santo Inácio de Loyola e Santo Afonso de Ligório ensinam que quanto mais uma alma se desapega de si mesma e permite que Deus atue nela, maior será sua recompensa eterna. O pecado não é apenas um desvio moral, mas um afastamento real de Deus, que impede esse progresso. Santo Agostinho ensina que ‘o pecado é o amor desordenado de si mesmo até o desprezo de Deus’, mostrando que ele nos prende ao egoísmo e nos impede de avançar na santidade. Por isso, aqueles que não renunciam a seus pecados e não progridem na santidade acabam se distanciando de Deus, enquanto os santos seguem crescendo na luz.
A vida cristã não admite estagnação, como dizia Santo Afonso:
“Maior a caridade, maior a luz”.
Os santos compreenderam que a verdadeira ciência não está apenas no conhecimento teológico, mas na pureza de intenções e na conformidade com a vontade de Deus. Deus não aceita indecisão ou barganhas espirituais: Ele nos chama à totalidade da entrega.
A via unitiva, daí, é o ápice da vida espiritual, como dizia São João da Cruz:
‘A alma que chega à união com Deus já não deseja nada mais além Dele’.
Quem persevera na luta contra o pecado e se abre à iluminação divina alcança essa união perfeita. A alma que ama verdadeiramente a Deus já não deseja nada fora Dele. Esse é o destino de todos os que buscam a santidade: viver em Deus, por Deus e para Deus.