Fonte: Fideliter n° 197, setembro – outubro de 2010
Então por que dar lição de casa às crianças? Concordamos que todo aluno deve assimilar o que é ensinado em sala de aula, aprender suas lições e fazer exercícios de repetição. Caso contrário, é muito provável que a maioria dos alunos tenha dificuldades com seus estudos. Mas o dever de casa tem objetivos educacionais importantes antes de tudo.
Estamos falando de dever de casa: a própria palavra expressa a obrigação da criança de concluí-la. Para o professor, a lição de casa é uma forma de incutir um senso de dever e responsabilidade no jovem aluno. Diante da tarefa, a criança formará sua vontade, pois a lição de casa, custe o que custar, deve sempre ser feita e bem feita. Visto por esse ângulo, conseguiremos fazer com que as crianças gostem de trabalhar. Agora que estamos convencidos de que o dever de casa não deve ser visto como uma tarefa que deve ser resolvida o mais rápido possível, nosso aluno já estará mais disposto a fazê-lo.
Para colocar em movimento as energias das quais ele é capaz, interessemo-nos por seus estudos com curiosidade afetuosa. Interessar-se é se colocar disponível, compartilhar suas emoções, suas tristezas, suas alegrias, seus arrependimentos para elevar a infância à maturidade. As crianças ficarão encorajadas com o nosso entusiasmo. Se valorizarmos o trabalho, aqueles minutos de trabalho diário, nossos filhos sentirão isso e não quererão se apressar, mas levarão isso a sério. Nós nos interessaremos pelos estudos dos nossos filhos não apenas estando disponíveis para responder às suas perguntas, mas também os questionando quando lerem ou recitarem uma lição. O interesse e o desejo de aprender se desenvolverão e o trabalho será feito com mais facilidade. Se a mãe deve estar disponível para os filhos, não negligenciemos o importante papel do pai, especialmente com seus filhos.
Mas nossa disponibilidade não significa “fazer as coisas por ele”. Cabe a ele pensar, aprender, e cabe a nós colocá-lo nas condições certas. A criança trabalhará em um ambiente silencioso. Ela não falará sobre qualquer outra coisa enquanto estiver trabalhando, nem se movimentará o tempo todo. É necessário fixar o local e a hora em que o trabalho começa e a criança deixará imediatamente suas outras ocupações. Também é importante definir um horário para a realização do trabalho para que a criança não fique entediada e perca tempo brincando e sonhando acordada. Entretanto, é importante deixar que as crianças trabalhem em seu próprio ritmo e dar-lhes tempo para pensar. Quanto menor a criança, mais lento será seu raciocínio. Portanto, devemos ter cuidado para não pensar por elas. Se interviermos na menor dificuldade, a criança não conseguirá se acostumar com o esforço e aprender a superar os obstáculos.
Em princípio, os pais não deveriam ter de repetir explicações em casa. Se o fizessem, seria necessária uma conversa com o professor… Às vezes, as crianças não prestam atenção na aula porque sabem que os pais vão compensá-las em casa…
Ao questioná-la, ajudaremos a criança a pensar. Cabe a nós orientá-la, garantir seu entendimento, incentivá-la e torná-la cada vez mais responsável à medida que ela cresce. Essa autonomia é adquirida pouco a pouco, mas começa já no primeiro ano do ensino fundamental. Se não souberem ler, um adulto deve estar presente, mas, para começar a assumir o controle de suas próprias vidas, a criança não poderia pegar seu livro, abri-lo até a página, conferir e guardar seu material quando o estudo terminar? Na escola primária, vamos orientar o aluno para que ele possa aprender sozinho e de forma inteligente as suas lições. Antes de iniciar um exercício, vamos nos certificar de que ele entenda as instruções fazendo perguntas. Gradualmente, os alunos assumem o controle de seu aprendizado e, na idade do ensino médio, são capazes de fazer a lição de casa por conta própria, mesmo que às vezes peçam algumas explicações. Essa autonomia, no entanto, não elimina a responsabilidade do adulto de verificar se a lição de casa foi feita corretamente e se as lições foram compreendidas… Desde as primeiras lições, não podemos ser negligentes.
Como podemos ver, ensinar uma criança a fazer a lição de casa corretamente requer paciência e perseverança, mas não é consolador ver nossos filhos desenvolverem o gosto pelo estudo, sua inteligência se desenvolver, sua força de vontade se fortalecer? Não é também uma maneira de conhecer melhor nossos filhos, de ter discussões proveitosas com eles? Algumas pessoas dirão que seus filhos preferem brincar e que fazê-los trabalhar é uma luta diária. Certamente, e se essa batalha durar, nós vamos nos lembrar de que ela nunca será sem benefícios. Vamos ter o consolo de ter mostrado aos nossos pequenos rebeldes o exemplo do cumprimento de nosso dever de estado e de tê-los ensinado a cumprir o deles. É aí que reside a santidade, e se o bom Deus nem sempre recompensa nossas penas e fadigas nesta terra, Ele nos recompensará ainda mais no céu.
Irmãs da Fraternidade São Pio X
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