Mães de sacerdotes: Anna Cavalieri, mãe de Santo Afonso de Ligório

Dona Ana Cavalieri, mãe de Santo Afonso de Ligório, soube incutir nos seus filhos, desde tenra idade, um grande amor a Deus e um vivo desejo de perfeição cristã.

ANNA CAVALIERI, MÃE DE SANTO AFONSO DE LIGÓRIO (1670-1755)

O mais velho de uma família de oito filhos, Afonso de Ligório nasceu em Marianella, perto de Nápoles, em 27 de setembro de 1696. Seu pai, Dom José de Ligório, descendente de uma família nobre, era capitão de uma das galeras reais do imperador Carlos VI. Sua mãe, Dona Ana Cavalieri, descendente de uma família espanhola, era uma cristã fervorosa.

Como o pai estava frequentemente ausente devido à sua profissão, coube principalmente à mãe a educação dos filhos: Afonso Maria, futuro bispo; Antônio, que foi mestre de noviços na abadia beneditina de Monte Cassino; Cajetan, padre secular de notável santidade; Maria Luísa e Maria-Ana, religiosas; Hércules e Teresa, chamados a casar-se e a viver de acordo com o ideal cristão; e, finalmente, Madalena, que morreu muito jovem.

Dona Ana soube incutir nos seus filhos, desde tenra idade, um grande amor a Deus e um vivo desejo de perfeição cristã. Ela levava uma vida um pouco semelhante à de uma religiosa: recitava diariamente o ofício divino, dedicava-se à oração e impunha-se disciplina. Todas as noites, recitava com eles o rosário; depois, explicava-lhes a doutrina cristã, falava-lhes do dever de amar a Deus e ao próximo, de se apegar a Jesus e a Maria, de fugir do pecado.

Mais tarde, lembrando-se de sua juventude, Afonso dirá: “Se houve algo de bom em mim durante minha infância, se consegui evitar o mal, devo isso extremamente à solicitude de minha mãe. Durante meus primeiros anos, minha mãe foi para mim como os olhos e as mãos da Providência. Pais virtuosos fazem filhos virtuosos; quando os pais dão mau exemplo, eles o transmitem aos filhos. Há pais que se queixam de ter filhos maus, mas esquecem-se de que Jesus Cristo disse: «Colhe-se uvas dos espinhos?» Como podem os filhos ser bons quando os pais não o são? Seria necessário um milagre.”

Afonso aproveita ao máximo as lições e os exemplos da sua mãe. Quando era pequeno, ele foi notado por um santo jesuíta, o padre São Francisco Jerônimo, que o abençoou e previu três coisas a seu respeito: que ele não morreria antes dos 90 anos, que um dia seria bispo e que prestaria serviços eminentes à Igreja. Essas três previsões se cumpriram à risca.

Notavelmente dotado para os estudos, Afonso era um exemplo para as crianças da sua idade pela sua piedade, caridade e outras virtudes. Em casa, gostava de construir pequenos altares onde imitava o padre na missa. Aos doze anos, ingressou como estudante na Universidade de Nápoles. Na época, era submetido a uma disciplina rígida por seu pai, que exigia dele o máximo de trabalho e o mínimo de recreação.

Com apenas 16 anos, Afonso foi admitido como doutor em direito civil e canônico. Seu pai sentiu um orgulho enorme, vendo no sucesso do filho a oportunidade de dar ao nome Ligório um renascimento de glória. Ao contrário, sua mãe rezava para que Afonso colocasse seus talentos extraordinários a serviço de Deus.

Por respeito ao pai, Afonso inscreveu-se na Ordem dos Advogados e começou a defender várias causas com sucesso, até ao dia em que perdeu uma – de grande importância – por ter sido demasiado leal na sua argumentação. Este revés, que humilhou o jovem advogado, foi o meio escolhido pela Providência para o orientar para a sua verdadeira vocação.

O pai, ainda movido por ambição, tentou casá-lo, oferecendo-lhe um casamento vantajoso, mas Afonso recusou a proposta. Por sua vez, Ana, mantendo a esperança de que Deus chamasse Afonso para segui-Lo, implorava esta graça: “Senhor, dignai-vos tomá-lo ao vosso serviço”. E Deus atenderia a essa oração materna.

Afonso costumava ir frequentemente ao hospital dos incuráveis para cuidar dos doentes e confortá-los. Um dia, enquanto se dedicava a essa obra de caridade, foi subitamente envolvido por uma grande luz e ouviu uma voz no fundo do seu coração que dizia: “Afonso, abandone o mundo para se entregar inteiramente a mim”. O jovem advogado compreendeu que Jesus o chamava para segui-lo. Ele respondeu: “Senhor Jesus, por tempo demais resisti à vossa graça. Fazei de mim o que vos agradar.”

Profundamente comovido, dirigiu-se a uma igreja dedicada a Nossa Senhora das Mercês, prostrou-se diante do altar de Maria e ofereceu a Deus a sua vida. Para marcar com um gesto significativo que estava decidido a renunciar definitivamente ao mundo, tirou a espada da bainha e depositou-a sobre o altar. Isso aconteceu em 28 de agosto de 1723; Afonso tinha 27 anos. De volta a casa, ofereceu a Hércules, seu irmão mais novo, o seu direito de primogenitura, e este aceitou.

Sua mãe, como era de se esperar, alegrou-se profundamente, mas… o que diria o pai ao saber da decisão do filho? Profundamente contrariado, ficou furioso e disse a Afonso: “Peço a Deus que nos leve, a você ou a mim, pois não suporto mais ver você!” Afonso respondeu: “Deus é meu único refúgio agora que meu pai terreno me abandona”. Ana consolou e encorajou o filho, convencida de que era o Espírito Santo quem o estava conduzindo a uma vida mais perfeita.

Dom José foi encontrar-se com o bispo de Troia, na esperança de que ele impedisse Afonso de deixar a família para se dedicar a Deus. A resposta negativa do bispo entristeceu o pai, mas ao mesmo tempo alegrou o filho e a mãe: “Eu mesmo”, disse o bispo, “renunciei aos meus direitos de primogenitura para salvar minha alma e você quer que eu me oponha ao desígnio de seu filho, correndo o risco de perder a alma dele e a minha!” Depois de muita hesitação, o pai acabou cedendo.

Em outubro de 1723, Afonso, que tinha 27 anos, vestiu o hábito eclesiástico e recebeu a tonsura. Nas notas de retiro dessa época, ele se comprometia, entre outras coisas, a fazer pelo menos uma hora de oração todos os dias, a obedecer aos seus superiores como ao próprio Deus, a ser sempre modesto, etc. Afonso foi ordenado sacerdote em 27 de dezembro de 1726, aos 30 anos.

Percebendo a dignidade incomparável com que estava revestido, renovou e reforçou suas resoluções de jovem levita:

  1. Sou sacerdote: minha dignidade está acima da dos anjos; minha vida deve ser de pureza angelical;
  2. Um Deus se digna a obedecer à minha voz; devo, com mais razão, obedecer à d’Ele, à graça e aos meus superiores;
  3. Não devo buscar senão a glória de Deus, minha santificação e a salvação do meu próximo; devo, portanto, dedicar-me a isso, se necessário, até ao preço da minha vida.

Afonso teve como principal ministério o da pregação e das confissões e, logo, o de ministrar missões. Sua reputação de eloquência e santidade atraiu uma multidão de ouvintes que, ao ouvi-lo, não conseguiam conter as lágrimas. Um dia, seu pai, Dom José, movido pela curiosidade, foi ver por si mesmo como seu filho pregava a palavra de Deus e, ao sair do sermão, disse-lhe: “Meu filho, como estou grato a você! Você me ensinou a conhecer a Deus. Eu o abençoo e agradeço por ter abraçado um estado tão santo e que agrada tanto a Deus”. Que reviravolta naquele homem que, por tanto tempo, se opôs formalmente à vocação do filho!

Em 1731, Afonso tinha 35 anos e era padre há seis anos quando se estabeleceu em Santa Maria dos Montes, num pequeno hospício, como superior de uma nova congregação de padres que acabara de fundar, a Congregação do Santíssimo Redentor, ou Redentoristas, destinada a realizar missões e retiros com o objetivo de evangelizar os pobres e os humildes. Afonso então fez um voto pessoal de nunca perder um só instante de tempo.

Para esses religiosos, Afonso escreveu numerosas obras de teologia e ascetismo e uma teologia moral que os papas frequentemente propuseram como modelo do gênero. Foi também um fervoroso propagador da devoção à Santíssima Virgem, e publicou um livro célebre: “As Glórias de Maria”.

Por volta de 1737, o pai de Afonso quis colocar-se sob a direção do filho; em 1744, chegou mesmo a pedir para ser admitido entre os Redentoristas como irmão leigo. Mas o filho aconselhou-o a ficar ao lado da esposa para edificar a família com a sua piedade e virtudes. Foi o que ele fez até à sua morte, ocorrida no ano seguinte.

Quanto a Dona Ana, ela viveu mais dez anos. Durante sua viuvez, levou uma vida totalmente consagrada ao Senhor, como uma religiosa no mundo: todos os dias, ia à missa, fazia suas orações e recitava o ofício divino; frequentemente se dedicava ao jejum e à abstinência; ajudando e apoiando ainda, com sua vida edificante e suas orações, cada um de seus filhos, tanto os cinco consagrados a Deus quanto os dois comprometidos nos laços do matrimônio.

Em 1755, Afonso estava dando uma missão quando soube que sua mãe, então com 85 anos, estava gravemente doente. Imediatamente, ele foi para o seu leito para assisti-la em seus últimos momentos. Feliz por rever seu querido filho sacerdote e religioso, ela lhe pediu que a ouvisse em confissão, e ele a livrou das angústias espirituais que a afligiam. Ele lhe deu os últimos sacramentos, mas teve que partir antes de testemunhar seu último suspiro. Ele escreveu a Hércules, seu irmão mais novo: “Que consolo tive ao ver nossa mãe livre desses escrúpulos! Peça-lhe que me abençoe mais uma vez e diga-lhe que Deus e a Virgem Maria certamente a esperam no paraíso”.

Assim morreu essa nobre e ilustre mãe, a quem a Igreja deve o dom de poder honrar e glorificar um de seus filhos como santo. Se dona Ana tivesse preferido os prazeres do mundo aos deveres domésticos, se não tivesse zelado pela educação dos seus filhos como fez, se não tivesse apoiado o seu filho Afonso contra a oposição do seu pai, a Igreja teria perdido um célebre teólogo, um santo glorioso e um grande fundador de ordem religiosa.

Em 1762, aos 66 anos, Afonso foi escolhido pelo papa Clemente XIII como bispo de Santa Ágata dos Godos, sede sufragânea de Benevento. O humilde Afonso recusou essa dignidade e só aceitou por ordem formal do papa. Em 1775, suas enfermidades o obrigaram a oferecer ao papa a renúncia ao episcopado. Afonso voltou para seus religiosos: viveu mais doze anos entre eles, mostrando-lhes, pelo exemplo de sua vida, o que é um verdadeiro discípulo de Cristo. Sempre teve especial estima pela devoção à Via-Sacra, que percorria diariamente.

Quando as enfermidades o impediram, ele se deixava transportar em uma cadeira de rodas de uma estação a outra. Quando isso se tornou impossível e ele teve que ficar no quarto, continuou em espírito o exercício da Via-Sacra por meio de um crucifixo abençoado para esse fim. Ele gostava de dizer: “Na nossa última hora, que possamos morrer segurando o crucifixo nas mãos e beijando-o com amor!”. Foi com essa disposição que, em 1º de agosto de 1787, o santo bispo faleceu em Nocera de Pagani, exausto pela idade avançada e afligido tanto por provações morais quanto por graves enfermidades físicas, aos 90 anos, conforme a previsão feita pelo padre São Francisco Jerônimo.

Gregório XVI canonizou Santo Afonso; Pio IX o proclamou doutor da Igreja universal e Pio XII o constituiu patrono dos confessores e moralistas. Além da Congregação dos Redentoristas, Santo Afonso também fundou um Instituto de religiosas, também conhecido como Redentoristas, para servir de apoio com suas orações contemplativas aos seus filhos missionários nos campos.

Observação: Texto extraído do livro Mães de sacerdotes (1956), do Padre Robert Quardt (1893-1971), sacerdote da Congregação do Sagrado Coração de Jesus; edição revisada e ampliada por Padre Michel Simoulin, FSSPX.

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