Mães de Sacerdotes – Margarida Occhiena, mãe de São João Bosco

Margarida Occhiena, mãe de São João Bosco
A educação que Margarida Occhiena deu aos filhos foi inteiramente baseada na religião. O fundamento era a onipresença de Deus.

Para saber do que era feita Margarida Occhiena, basta lembrar o seguinte fato. Enquanto a guerra avançava e Margarida, de nove anos, estava sozinha em casa, soldados, cavaleiros entraram no pátio e empurraram os cavalos para o celeiro onde o gado se empanturrava alegremente da aveia recém-colhida. A menina implorou a essas pessoas desonestas que poupassem a escassa colheita. Enquanto zombavam dela e fingiam não entendê-la, ela pegou um forcado e expulsou os cavalos do celeiro. Assim era Margarida Occhiena quando criança; assim ela permaneceu durante toda a vida, decidida, corajosa e enérgica.

Em 1812 – ela tinha então vinte e quatro anos – casou-se com um viúvo que, com o filho do primeiro casamento, trouxe-lhe a mãe idosa e enferma. Eles tiveram mais dois filhos. Cinco anos depois, com a morte do marido, a jovem viúva quis a todo custo manter a vida do campo. Com as mãos começou a arar, a semear, a colher, a amarrar os feixes, a carregar as carroças, a cortar o trigo e a transportar o grão para o celeiro.

Este trabalho e preocupação extras não a impediram de cumprir todos os seus deveres para com a velha sogra, a quem se submetia sem reservas, para com o enteado e os próprios filhos. Este genro, que mais tarde se tornou um homem corajoso, fez ver-lhe todas as cores. Rústico e ciumento, ele reclamava constantemente, acusando a mãe de preferir os próprios filhos a ele. Assim, nunca estava contente!

Embora esta educação fosse animada por um carinho caloroso, Margarida sempre intervinha severamente quando as crianças cometiam alguns erros. No quarto da família sempre havia uma vara pendurada na parede. Ela raramente era usada, exceto em algumas ocasiões.

A educação que Margarida deu aos filhos foi inteiramente baseada na religião. O fundamento era a onipresença de Deus. Quantas vezes ela lembrou aos filhos que Deus vê tudo o que fazemos ou pensamos. Quando ela permitia que brincassem com seus amiguinhos, ela lhes dizia: “Divirtamse, mas lembrem-se de que Deus vê vocês”. Ao ver um de seus filhos irritado, ela sussurrou em seu ouvido: “Deus vê os pensamentos mais secretos.” Se ela suspeitasse que eles iriam se desculpar com uma mentira, antes que o pequeno pudesse dizer uma palavra, ela o avisava dizendo: “Não fale, meu pequeno, Deus te vê.” Ao fazer isso, Margarida imprimiu no coração de seus filhos a consciência da onipresença de Deus.

Uma criança da vizinhança cometeu publicamente uma ofensa grave. Enquanto se conversava sobre o ocorrido, Margarida disse: “Se eu soubesse que vocês estavam ficando assim, rezaria a Deus para que vocês morressem imediatamente”.

Na boca de uma mãe estas palavras parecem duras, mas têm ainda mais força para conduzir ao bem e afastar do mal. Este resultado foi tão bem alcançado que chegou o dia em que o desejo secreto desta mãe parecia preste a ser realizado. João, seu filho mais novo, confidenciou-lhe que gostaria de ser padre. Neste momento o coração de Margarida estremeceu de alegria; mas, como uma mulher clarividente, ela respondeu secamente: “Padre… padre… isso é fácil falar. Por que você quer ser padre?”

Esta resposta pôs fim aos segredos e João, de nove anos, teve tempo para refletir sobre os motivos que o levaram ao sacerdócio. Em vez de mimálo, Margarida passou a observá-lo mais de perto; ela sabia que uma vocação deve ser provada. E as provações não tardaram a chegar.

Assim que o filho mais velho ouviu falar disso, ele se opôs com todas as suas forças. O pequenino, dizia ele, primeiro tinha que trabalhar e labutar como ele. Só os ricos podem viver sem fazer nada. A partir desse dia, o mais velho não chamará mais o irmão pelo nome, mas, para magoá-lo, passou a chamá-lo ironicamente de “Senhor” ou “Senhor Doutor”. Isso foi tão longe que, quando João tinha treze anos, sua mãe o aconselhou a ir buscar pão em outro lugar.

João tornou-se, portanto, um servo do campo e, como era muito talentoso, também aprendeu o ofício de carpinteiro e fez vários outros trabalhos para sobreviver. Ao mesmo tempo ele estudava. Aos vinte anos, apesar de todos os obstáculos, concluiu o ensino secundário. Quando, depois de vestir a batina, se despediu da mãe, ela lhe disse, com seu jeito áspero: “Sem dúvida, estou feliz que você tenha chegado a este ponto, mas lembre-se que o hábito não faz o monge. Se surgirem dúvidas sérias sobre sua vocação, você terá de deixar a sua batina. Prefiro ver você passar toda a sua vida empregado no campo do que ver um mau padre… Não precisa se preocupar com a minha velhice, sempre fui pobre, também quero morrer pobre. Lembre-se apenas disto: se algum dia você se tornar um padre rico, pode ter certeza de que não porei os pés em sua casa”.

Quando, seis anos depois, João recebeu a ordenação sacerdotal e celebrou a sua primeira missa, a sua mãe disse-lhe: “Reza por mim todos os dias no santo sacrifício, é tudo o que te peço. Não precisas de te preocupar comigo. Cuide apenas das almas que lhe serão confiadas.”

Tal era a retidão e pureza de intenção de “Mama Margarida”. Não deveria o filho de tal mulher tornar-se um sacerdote santo? Assim ele se tornou. Seu nome é hoje conhecido em todo o mundo: João Bosco.

O jovem sacerdote seguiu exatamente as recomendações de sua santa mãe. Na grande cidade industrial de Turim, o abandono da juventude era inacreditável. Bandos de crianças, cobertos de trapos, vagavam pelas ruas, mendigavam, dormiam debaixo de pontes e roubavam. Já corrompidos, usavam linguagem obscena, aglomeravam-se na cidade e molestavam os transeuntes. Dom Bosco pôs-se a procurá-los, adotou-os, proporcionou-lhes alimentação, vestuário, habitação e educação. Depois de um tempo, o trabalho estava além de suas forças, um dia ele foi até sua mãe, explicou-lhe sua situação e pediu-lhe que fosse com ele cuidar dos pobres órfãos. Margarida ouviu, pensou por um momento, depois surgiu um brilho em seus olhos e, apesar dos sessenta anos, respondeu: “Se você acredita que seu empreendimento é querido por Deus, pode contar comigo”.

No dia seguinte, os dois partiram a pé pela longa estrada até Turim. A mãe levou consigo apenas um pouco de roupa para lavar. Determinada, corajosa e valente, Margarida começou seu árduo serviço. Ela, que havia se esforçado tanto para criar três filhos, agora seria a mãe de centenas de crianças. E ela fez isso incansavelmente. Todos os dias, durante vários anos, ela lavou e costurou para as crianças pobres adotadas por seu filho. Em troca de seu cuidado maternal e desinteressado, ela era frequentemente recompensada pela ingratidão desse grupo de órfãos. Em uma ocasião, porém, a heroica mulher perdeu o sangue frio. Literalmente no fim de suas forças, ela disse ao filho: “Desta vez, estou farta. Ontem pedi às crianças que trouxessem a roupa que eu havia pendurado para secar em cordas: elas a rasgaram e a arrastaram pela lama. No jardim, elas pisotearam os legumes. Elas estragam tanto suas roupas que não sei onde consertá-las. Elas perdem as meias e os sapatos. Escondem a louça da cozinha tão bem que tenho de procurá-la por horas. Está terminado, está terminado! Vou para casa descansar um pouco para minha velhice”.

Assim falou Margarida. Seu filho a ouviu sem interromper; ele ouviu sem dizer uma palavra; e quando ela terminou, ele simplesmente apontou para o crucifixo pendurado na parede. “Mamãe Margarida” entendeu. Uma espécie de medo passou por seu rosto venerável e então ela disse, chorando: “Você está certo, meu filho. Eu não tinha pensado nisso”. E, imediatamente, ela voltou em silêncio para sua tarefa ingrata e permaneceu lá até seu último suspiro.

Mãe e filho eram dignos um do outro. Tinham o mesmo heroísmo.


A obra de Dom Bosco cresceu pouco a pouco. A casa de Turim tornouse uma verdadeira cidade. Milhares de alunos vinham em busca de comida e abrigo. Em outros lugares, na Itália, França, Inglaterra, Bélgica, Holanda, Espanha, Portugal, Alemanha, Áustria, Suíça, Turquia, Polônia, Hungria, América, Ásia, África e Austrália – enfim, em todo o mundo, foram criadas novas fundações.

Infelizmente “Mamãe Margarida” nunca viu esse magnífico florescimento da caridade cristã. Depois de viver com seu filho durante os primeiros anos extremamente difíceis, ela foi acometida por uma pneumonia em 1856, quando tinha quase setenta anos de idade. Seu corpo, desgastado pela idade e pelo trabalho árduo, não conseguiu resistir à doença. O fim dessa vida gloriosa estava se aproximando.

“Meu filho”, disse ela em sua agonia, “eu o ajudei no passado, ensinando-o a receber os sacramentos; agora é sua vez de me ajudar. Tragame a Sagrada Comunhão e me dê a Extrema Unção. Não consigo mais rezar em voz alta. Recite as orações lentamente e claramente para que eu possa me unir a elas interiormente.”

E assim, “Mamãe Margarida” permaneceu até o fim como havia sido durante toda a sua vida: enérgica, ativa, generosa. Quando chegou a última noite, ela olhou nos olhos do filho, que chorava ao seu lado, e disse: “Você está sofrendo? Deixe-me em paz e vá rezar! O que quer que ainda tenhamos a dizer, entenderemos lá em cima na eternidade”. Dom Bosco respondeu: “Não, mãe, deixe-me rezar com a senhora. Não posso deixá-la neste momento”. Mas o amor se empenhou com energia: “Não! Vá. Faça-me este favor. Este é o meu último pedido, porque sofro duplamente ao vê-lo sofrer. Então vá! Estou bem cuidada. Vá e ore por mim! Não tenho nenhum outro desejo a lhe expressar. Adeus!” Assim falou Margarida, e mais uma vez Dom Bosco teve de obedecer.

Poucos momentos depois, quando vieram lhe dizer que ela não estava mais viva, o santo chorou de dor, como uma criança.

A razão pela qual São João Bosco se tornou um sacerdote, cuja obra maravilhosa se espalhou pelo mundo e sobreviveu, reside no fato de que ele teve uma mãe do mesmo calibre que ele, uma mãe que legou seu coração sacerdotal ao filho.

Observação: Texto extraído do livro Mães de sacerdotes (1956), do Padre Robert Quardt (1893-1971), sacerdote da Congregação do Sagrado Coração de Jesus; edição revisada e ampliada por Padre Michel Simoulin, fsspx.

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