O Desejo pela Vida Sobrenatural

Retiro de Carnaval
Primeira meditação feita pelo Rev. Pe. Wander de Jesus Maia, no Retiro de Carnaval realizado na Associação Cultural Cor Mariae Dulcissimum, em 01/03/2025.

Transcrição: Juliano de Henrique Mello ERGO FECIT

vida sobrenatural é a vocação suprema do homem, pois é nela que encontra seu verdadeiro sentido e plenitude.

Como ensina Santo Afonso de Ligório,

“Quem se salva, salva-se para sempre; quem se condena, condena-se para sempre”.

Essa verdade nos recorda que a busca por Deus deve ser a prioridade absoluta em nossa existência.

Desde a criação, Deus inscreveu no coração humano o anseio por sua presença e o destinou à união com Ele. Contudo, o pecado original feriu sua natureza, tornando essa busca um caminho de desafios e provações. Por isso, a alma precisa passar por um caminho de purificação para recuperar sua orientação para Deus.

As vias purificativa, iluminativa e unitiva traçam o caminho da alma rumo à perfeição cristã. 

primeira etapa, a via purificativa, é essencial para ordenar os desejos da alma e capacitá-la para ver a Deus. Santo Tomás de Aquino ensina que a graça santificante nos permite superar os efeitos do pecado original e preparar-nos para a união com Deus.

Adão e Eva possuíam essa graça em plenitude, e nós a recebemos no sacramento do Batismo e na Confirmação. O desejo por Deus cresce à medida que o amor por Ele se aprofunda, e isso se manifesta na oração, na ascese e na recepção frequente dos sacramentos, que fortalecem a alma na busca pela santidade. Santo Agostinho expressou isso ao dizer:

‘Fizeste-nos para Ti, Senhor, e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti’.

Quanto maior o amor, maior o desejo de alcançar sua presença. São João da Cruz descreve esse anseio como o “beijo de Deus”, um desejo ardente que só pode ser satisfeito pelo próprio Criador.

No entanto, esse desejo não nasce sem luta: requer purificação do intelecto, da vontade e dos afetos. A Sagrada Escritura nos exorta a dilatar o coração para Deus, como ensina São Paulo em 2 Coríntios 6,11-13:

“Dilatai-vos os vossos corações”.

O mundo frequentemente se opõe ao crescimento espiritual, pois busca prender o homem às coisas temporais e passageiras. Essa resistência pode ser vista na cultura moderna, que desvaloriza a oração e o sacrifício, substituindo-os por uma busca desenfreada por conforto, entretenimento e relativismo moral.

Isso se reflete, por exemplo, na crescente banalização do domingo, que deveria ser um dia santificado, mas é frequentemente reduzido a um momento de lazer sem sentido espiritual, afastando as pessoas da oração e da participação na Santa Missa. O domingo não é apenas um dia de descanso, mas o centro da vida cristã, pois nele se renova o sacrifício redentor de Cristo na Eucaristia. Quando negligenciamos esse preceito, perdemos a oportunidade de fortalecer nossa fé e de oferecer a Deus o culto devido, caindo, muitas vezes, na indiferença espiritual. Essa mentalidade enfraquece a prática da fé, dificultando a perseverança na oração, na penitência e na vida sacramental, elementos indispensáveis para o crescimento espiritual.

Para perseverar, é necessário cultivar uma disciplina interior e buscar a graça de Deus nos sacramentos e na oração. Um meio prático para isso é estabelecer horários fixos de oração diária, participar regularmente da Santa Missa e praticar pequenos atos de penitência, como o jejum e outras formas de mortificação dos sentidos. Além disso, a leitura espiritual e a meditação sobre a vida dos santos ajudam a fortalecer a alma no combate contra as distrações do mundo.

celibato é um testemunho concreto desse abandono de tudo para guardar espaço exclusivo para Deus. Santos como São Francisco de Assis e São João Maria Vianney viveram essa realidade, demonstrando que o desapego das coisas terrenas fortalece a alma na busca pela perfeição espiritual.

Além disso, a vida matrimonial, quando vivida segundo os preceitos cristãos, também se torna um caminho de santificação, pois exige renúncia, sacrifício e entrega total a Deus através do amor ao cônjuge e à família.

Diante dessa realidade, devemos nos perguntar: o que realmente buscamos? Qual é o objetivo de nossas vidas? Se não for Deus, qualquer outra meta será vazia. A felicidade verdadeira está na intimidade com o Criador, pois só Ele pode preencher a alma humana.

A via purificativa é, portanto, o primeiro passo para a transformação da alma. Isso se manifesta na vida prática dos fiéis através da renúncia aos pecados habituais, do esforço constante para vencer as más inclinações e do crescimento na vida de oração. Exemplos concretos incluem a prática do exame de consciência diário, a confissão frequente e o hábito de oferecer pequenos sacrifícios cotidianos como forma de união com Cristo. Assim, a alma se fortalece para progredir nas etapas seguintes da vida espiritual.

Somente através dessa purificação interior a alma se torna capaz de receber a luz divina. É nesse caminho que ela avança para a via iluminativa, onde a verdade de Deus se torna mais clara, e, por fim, atinge a via unitiva, onde a alma já não deseja nada além da vontade de Deus.

Como Cristo nos ensinou:

“Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todas as coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6,33).

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